HORROR PESSOAL: O ultimo desejo pt02
a consciência do eterno.
RPG, A ULTIMA ARTE!
Lillian Potter
6/21/20252 min read


"O Último Desejo – Parte 2: A Consciência do Eterno"
Já tentei de tudo.
Na milésima repetição — ou talvez na décima milésima, já perdi a conta — comecei a testar os limites da dor. Arranquei pedaços da minha própria carne com as unhas, quebrei ossos, mordi a língua até quase sufocar no próprio sangue.
O ciclo sempre recomeça.
Já tentei recitar o ritual de maneira errada, propositalmente errando os versos, trocando palavras, cuspindo blasfêmias para qualquer coisa que esteja me assistindo. Mas, de alguma forma, no instante crítico... minha boca se corrige sozinha.
Como se eu não tivesse mais controle sobre a própria voz.
Já me debati tanto que passei dias seguintes com os músculos doloridos, mas... quando o relógio bate 03:58, estou inteiro de novo. Sempre inteiro. Sempre prestes a fazer de novo.
Agora... comecei a ouvir.
Sussurros.
Não sei se vêm das paredes, das velas... ou da minha própria cabeça.
Eles falam frases curtas, mas sempre as mesmas palavras:
"Você quis."
"Você pediu."
"O preço é o momento."
"Repita."
Nas primeiras centenas de ciclos, tentei dialogar com essas vozes. Gritava, xingava, implorava... mas agora só as escuto. Quieto. Como um condenado na beira da forca, esperando a queda.
Passei a olhar para os detalhes que nunca prestei atenção antes: o modo como a cera da vela derrete sempre igual... como o ar parece pesado sempre no mesmo segundo... como o cheiro de sangue fresco parece mais forte logo antes da frase final.
Já comecei a esquecer o rosto da minha mãe. O gosto de comida. A sensação de um toque humano.
Mas a lembrança da minha ambição... essa permanece intacta.
E pior: mesmo com tudo isso... há uma parte de mim que ainda queria ver o ritual completo. Ainda queria saber o que vem depois. Ainda quer o poder.
E acho que é exatamente por isso que estou preso aqui.
O castigo não é apenas repetir.
É ser lembrado, segundo após segundo... de que, no fundo...
eu faria tudo de novo.
Talvez... o verdadeiro horror não seja o ciclo.
Talvez... o horror seja descobrir que eu sou exatamente o tipo de monstro que merece estar aqui.