HORROR PESSOAL: O ultimo desejo.
O fim justifica os meios?
RPG, A ULTIMA ARTE!
Lillian Potter
6/21/20252 min read


O ocultista passa anos atrás de um ritual que concederia poder absoluto. Quando finalmente realiza... percebe que a concessão do desejo o trancou em um ciclo temporal: revivendo os últimos 24 horas antes do ritual... para sempre. Sempre com plena consciência de que não importa o que faça, sempre acabará naquela sala, com sangue fresco nas mãos, e com a certeza de que jamais sairá dali.
Temas: Prisão existencial, arrependimento tardio, horror temporal.
"O Último Desejo"
O ritual foi um sucesso.
Por anos, busquei os fragmentos, os símbolos esquecidos, os grimórios mutilados por gerações de ocultistas que desistiram no meio do caminho. Que morreram tentando. Que enlouqueceram antes de terminar.
Mas eu fui até o fim.
Na madrugada de uma quinta-feira chuvosa, com as velas consumindo o pouco oxigênio da sala e o chão coberto de sal, sangue e cinzas... eu pronunciei as palavras finais.
E então... veio o silêncio.
Um silêncio tão denso que parecia ter peso. Por alguns segundos, o mundo parou. Senti a pele formigar. O chão tremer levemente. Os ponteiros do relógio congelaram às 03:59.
Eu sorri.
"Finalmente..."
Por dentro, uma onda de poder subiu. Meu corpo estava quente, forte, invulnerável. As barreiras da matéria e da razão pareciam frágeis. Eu podia sentir os pensamentos de quem caminhava na rua abaixo do meu prédio. Ouvir o coração dos que dormiam nos apartamentos ao lado.
Eu tinha feito o impossível.
Mas aí… tudo escureceu.
Acordei de novo. No mesmo lugar. No mesmo exato segundo antes de pronunciar as palavras finais. Como se o ritual nunca tivesse acontecido.
Olhei o relógio: 03:58.
Tudo estava como antes: o círculo traçado, os símbolos desenhados, as velas intactas. Meu corpo, normal. Meu coração… ansioso. Confuso.
Achei que fosse uma falha. Recomecei. Recitei tudo outra vez.
O mesmo resultado.
E de novo.
E de novo.
Por um tempo, achei que podia simplesmente... não fazer. Sentei, fechei os olhos, tentei não repetir as palavras. Mas, sem saber como… minutos depois, já me encontrava em pé, a garganta recitando os versos proibidos como se fosse uma marionete.
É como se minha mente tivesse esquecido que eu queria parar.
Cada tentativa... trazia novas dores. Hemorragias internas. Sangue saindo pelos olhos. Náuseas absurdas. Mas sempre acordava de novo. No mesmo minuto. No mesmo lugar.
Sempre às 03:58.
Comecei a testar limites. Quebrei os objetos do ritual. Rasguei as folhas do grimório. Ateei fogo ao círculo. Cortei a palma da minha mão... até pensei em me matar antes da hora.
Mas... nada adiantava.
No momento seguinte, estava lá de novo. Intacto. Em pé. Com a faca de ritual na mão. O corpo obedecendo, mesmo contra minha vontade.
Hoje faz… não sei quantos dias. Ou semanas. Ou anos. O tempo não segue aqui.
Só sei que continuo acordando no mesmo segundo antes de cometer o maior erro da minha vida.
O preço do poder absoluto... é viver o instante antes dele...
Para sempre.
Preso num ciclo onde a escolha já foi feita... e onde a punição é lembrar que fui eu quem quis isso.
E o pior... é saber que, amanhã, quando der 03:58… estarei aqui de novo... pronto para recitar... querendo... ou não.