Se render? JAMAIS. A banalidade deve ser Destruída.

Abraxas

Descrição do post.

METAFISICA APLICADA

Mavih Muniz

4/14/20259 min read

O nome Abraxas tem várias associações ao longo da história, e o que se sabe sobre ele depende um pouco do contexto:

  1. Na antiguidade gnóstica (especialmente entre os basilidianos, um grupo gnóstico do século II), Abraxas era considerado uma entidade suprema, uma divindade que reunia em si o bem e o mal, transcendendo essa dualidade. Ele seria o criador de todos os mundos e até superior a outras figuras como Jesus ou os arcontes (entidades intermediárias).

  2. Etimologia e simbolismo: O nome "Abraxas" aparece em amuletos e pedras mágicas antigas chamadas de pedras abraxas. Curiosamente, as letras gregas que formam "Abraxas" somam 365 (o número de dias do ano), o que também sugere uma ligação com ciclos cósmicos.

  3. Na literatura moderna: Abraxas aparece no livro Demian de Hermann Hesse (1919), onde é descrito como um deus que une o bem e o mal, a luz e a sombra. Hesse usa Abraxas para falar sobre a integração dos opostos dentro da alma humana.

  4. Em ocultismo e esoterismo: Abraxas foi interpretado como uma força poderosa e ambígua. Algumas tradições o veem como um ser a ser reverenciado, outros o interpretam como simbólico da totalidade da existência (bem, mal, luz, trevas, tudo junto).

  5. Iconografia: Muitas vezes Abraxas é representado como uma figura estranha — corpo humano, cabeça de galo e pernas de serpente — carregando um escudo e um chicote. Essas imagens aparecem principalmente nos amuletos mágicos antigos.

Quem eram os basilidianos?

Os basilidianos eram seguidores de Basílides, um pensador gnóstico ativo em Alexandria (Egito) no começo do século II d.C.
O gnosticismo, de modo geral, via o mundo material como uma criação defeituosa (ou até maligna), feito por seres inferiores chamados arcontes. O verdadeiro Deus seria puro e inefável, muito além desse mundo.

Para Basílides, o universo era incrivelmente complexo, organizado em hierarquias e níveis espirituais — e no topo disso tudo, ele coloca Abraxas.

Abraxas no sistema de Basílides

  • Abraxas seria a suprema divindade, acima de todos os deuses conhecidos.

  • Ele seria o emanador do cosmos, de onde saíram potências e arcontes — seres responsáveis pela criação dos mundos e pela administração das realidades inferiores.

  • Diferente do Deus cristão tradicional, Abraxas não é simplesmente "bom": ele contém tanto o bem quanto o mal. Em sua natureza, não há essa separação moral — ele é totalidade: luz e sombra, criação e destruição.

Basílides dizia que o Deus Supremo era tão inacessível e incompreensível que seria necessário intermediários (chamados aeons ou potências) para que algo pudesse ser criado. Abraxas se posiciona nessa linha como uma das forças mais fundamentais, acima até do "Deus" do Antigo Testamento (que para os gnósticos era só um arconte imperfeito chamado Yaldabaoth).

Algumas características atribuídas a Abraxas nesse contexto:

  • É uma síntese dos opostos: bem e mal, luz e trevas.

  • Não é pessoal: não é um ser para se "adorar" como um pai misericordioso, mas sim uma força cósmica que se manifesta tanto na criação quanto na destruição.

  • 365 céus: Em algumas versões, Abraxas comanda 365 céus, cada um regido por um arconte — e cada céu corresponde a um dia do ano.

Por que isso era importante para os gnósticos?

A visão de Abraxas ajudava a explicar porque o mundo era tão cheio de dor e beleza ao mesmo tempo.
Para os gnósticos:

  • O sofrimento não é causado por um Deus malvado ou injusto, mas faz parte da estrutura de um universo que é, em si, uma mistura de forças, regido por uma divindade que contém todos os contrários.

  • O objetivo do ser humano seria transcender esse mundo de ilusões e dualidades para alcançar o verdadeiro Conhecimento (gnosis) e voltar à Unidade.

1. Abraxas como Criador no Gnosticismo Antigo

Nos sistemas gnósticos (especialmente o de Basílides), Abraxas não é o "criador" no sentido tradicional (tipo o Deus que cria o mundo diretamente, como no Gênesis).
Ele é mais como a Fonte Suprema, o "emanador" de onde saem todas as coisas — mas ele próprio não cria de forma direta o mundo físico que conhecemos.

O que acontece é:

  • De Abraxas emanam as potências, aeons e seres intermediários.

  • Um desses seres inferiores (às vezes chamado de Yaldabaoth) cria o mundo material — e faz isso de maneira imperfeita, por ignorância ou orgulho.

Ou seja:
Abraxas é a origem de tudo (inclusive do criador do mundo físico), mas não o criador direto da realidade material.

🌟 Em resumo: Abraxas cria os criadores.

2. Mas e se olharmos de outro jeito?

Se você entende "criação" como emanar tudo que existe, incluindo tanto as coisas boas quanto as ruins, então sim, pode-se dizer que Abraxas é o Criador, mas num sentido muito mais profundo e ambíguo:

  • Ele não diferencia entre criar luz e criar trevas.

  • Tudo que existe, existe por ele — inclusive o que chamamos de maldade, sofrimento, beleza, amor, ódio, etc.

  • Ele transcende a moralidade humana.

Isso é muito diferente da ideia clássica de um "Deus bom" que cria só coisas boas.
Abraxas é totalidade, é dualidade unificada.

3. Por que isso importa?

Se aceitarmos que Abraxas é o verdadeiro criador (em sentido profundo e totalizante), então:

  • O mal e o bem têm uma origem comum.

  • Não existe separação entre "divino" e "mundano"; tudo está entrelaçado.

  • A verdadeira iluminação (para os gnósticos) é reconhecer essa unidade — entender que todas as coisas, mesmo as que parecem opostas, são manifestações da mesma fonte.

Yaldabaoth: O Arconte Cego e Criador Imperfeito

Yaldabaoth (também escrito como Ialdabaoth, Jaldabaoth, ou outras variantes) é uma figura central nos sistemas gnósticos, principalmente nos textos encontrados na biblioteca de Nag Hammadi (manuscritos antigos descobertos no Egito em 1945).
Ele é visto como o arconte principal — um ser arrogante e ignorante que cria o mundo material sem ter conhecimento do verdadeiro Deus.

Origem e Natureza de Yaldabaoth

Nos mitos gnósticos, tudo começa com o mundo divino perfeito, chamado Pleroma (a plenitude da luz). Nesse Pleroma, existe uma série de entidades espirituais chamadas Aeons.
Um desses Aeons, a Sofia (que representa a Sabedoria divina), tem o desejo de criar algo por si mesma, sem a permissão do Todo.

Esse ato gera uma entidade imperfeita:
👉 Yaldabaoth.

Ele é descrito como:

  • Deformado (às vezes representado com a cabeça de leão e corpo de serpente).

  • Ignorante da existência do Pleroma.

  • Arrogante, acreditando ser o único deus existente.

Resumo da situação:
Sofia, ao criar Yaldabaoth, o gera fora da ordem perfeita.
Yaldabaoth, sem perceber sua origem, pensa ser o Deus Supremo e começa a criar o mundo material e outros arcontes à sua imagem.

Yaldabaoth como Criador do Mundo

  • Criação pela ignorância: Diferente do Deus benevolente da tradição cristã, o criador do mundo, segundo os gnósticos, não é o verdadeiro Deus, mas sim Yaldabaoth — um ser limitado e corrompido.

  • O mundo material é, portanto, imperfeito, cheio de sofrimento e separação — reflexo da própria imperfeição de Yaldabaoth.

  • Ele molda o ser humano, mas não consegue dar a centelha da vida.
    Então, Sofia ou o Deus verdadeiro intervém, soprando uma centelha divina nos humanos, permitindo que tenhamos algo acima da criação de Yaldabaoth: uma conexão com o verdadeiro Pleroma.

Características de Yaldabaoth

  • Cego: Não vê a realidade superior.

  • Arrogante: Declara "Eu sou Deus e não há outro além de mim" (essa frase, inclusive, é uma crítica gnóstica direta ao Deus do Antigo Testamento).

  • Tirano: Governa este mundo com rigidez, prendendo as almas humanas no ciclo de nascimento, sofrimento e morte.

  • Enganador: Manipula e escraviza as almas humanas para que não descubram sua verdadeira origem espiritual.

Yaldabaoth e os Arcontes

Yaldabaoth cria um grupo de seres auxiliares chamados arcontes ("governantes").
Esses arcontes ajudam a manter a ilusão do mundo material e a impedir que as almas humanas despertem para a verdade divina.

Cada arconte governa uma esfera celestial (às vezes associados aos planetas), construindo o que os gnósticos chamavam de "prisão cósmica".

O Propósito da Gnose

O objetivo do gnosticismo é a gnose — o conhecimento interior — que permite ao ser humano:

  • Reconhecer que a verdadeira origem da alma é o Pleroma, não o mundo físico.

  • Escapar da prisão criada por Yaldabaoth e seus arcontes.

  • Retornar à plenitude divina.

Yaldabaoth, então, é o grande obstáculo a ser superado: ele simboliza a ignorância, a arrogância e a falsa divindade.

Aparições de Yaldabaoth em Textos Gnósticos

Alguns textos onde Yaldabaoth aparece em destaque:

  • Apócrifo de João — onde sua criação e sua arrogância são descritas em detalhes.

  • Hipóstase dos Arcontes — fala da criação dos arcontes e a luta contra o despertar da humanidade.

  • Pistis Sophia — explora a queda de Sofia e o papel dos poderes inferiores.

Cada um desses textos aprofunda a história sob diferentes perspectivas.

Resumo Final

OrigemCriado pela Aeon Sofia, sem o consentimento do Todo.

NaturezaIgnorante, arrogante, criador do mundo material.

AtuaçãoPrende as almas humanas na ilusão da matéria.

Objetivo da GnoseSuperar Yaldabaoth através do conhecimento da origem divina.

Em essência: Yaldabaoth é a personificação da ignorância espiritual e da ilusão material — um desafio a ser vencido para que a alma possa se libertar e voltar à fonte da verdadeira luz.

✨ Síntese de Pistis Sophia

1. O que é a Pistis Sophia?

Pistis Sophia ("Fé-Sabedoria") é um dos textos gnósticos mais importantes, escrito provavelmente entre os séculos III e IV.
Ele sobreviveu completo em um manuscrito copta e apresenta ensinamentos secretos de Jesus aos seus discípulos após a ressurreição, ao longo de 11 anos.

Nele, Jesus explica:

  • Os mistérios do universo,

  • As hierarquias espirituais,

  • O drama da alma caída,

  • E os caminhos para a libertação espiritual.

2. Quem é Pistis Sophia?

Pistis Sophia é uma entidade espiritual feminina — uma das emanções da Luz Divina (do Pleroma).
Ela, movida por desejo de atingir a Luz Suprema, acaba caindo nas regiões inferiores do cosmos, dominadas por seres chamados arcontes e pelo próprio Yaldabaoth (aqui referido de maneiras variadas, como "o Deus Injusto").

Essa queda representa:

  • O afastamento da alma da fonte divina,

  • A luta contra forças inferiores que a prendem.

Ela se arrepende profundamente, canta hinos de arrependimento, e busca resgatar-se através da fé e sabedoria.

3. A Trama Central

  • Pistis Sophia, ao tentar alcançar a Luz, cai em um mundo inferior.

  • Lá, ela é atacada por forças corruptas e perde grande parte de sua luz.

  • Ela canta 13 arrependimentos (orações/lamentos) pedindo ajuda.

  • Jesus Cristo ou o Salvador da Luz a ouve e desce para ajudá-la.

  • Um processo de purificação e ascensão é iniciado, onde ela vai sendo elevada novamente para as esferas superiores.

Paralelamente, o texto detalha:

  • Os rituais de redenção,

  • Os nomes secretos dos poderes,

  • Os mistérios da "luz interior" que cada alma deve reativar para se libertar.

4. Temas Principais

TemaExplicação

Queda e RedençãoA alma (Pistis Sophia) se afasta da Luz por ignorância e desejo, mas pode retornar através do arrependimento e da iluminação.

Hierarquia do CosmosExiste uma estrutura de mundos espirituais, arcontes, esferas, e regiões de punição e recompensa.

Mistérios da LuzExistem práticas secretas e orações que conectam a alma à fonte divina — esses são os "Mistérios" que Jesus ensina.

Dualidade e PurificaçãoA existência é um campo de luta entre luz e trevas. A alma precisa purificar-se para retornar à sua origem.

5. Importância da Pistis Sophia

  • Espiritualmente: Representa a jornada da alma humana — nossa busca, nossas quedas, e nossa redenção possível.

  • Teologicamente: Contrapõe a ideia de um mundo bom por natureza. O mundo material é visto como um desvio ou prisão, e a salvação é um processo de reconexão interior.

  • Filosoficamente: Traz uma visão de que a fé e a sabedoria não estão separadas; são forças unidas no caminho da libertação.

📜 Em resumo:

Pistis Sophia é uma grande alegoria espiritual sobre a alma que, tendo caído na ilusão e na dor, só pode se libertar pela união da fé (pistis) e da sabedoria (sophia) — guiada pelo conhecimento secreto (gnose) revelado por Cristo.

🗺️ Mapa Espiritual de Pistis Sophia

Imagina o Cosmos dividido em níveis (ou camadas), cada um com suas características e entidades específicas:

✨ 1. O Alto – O Reino da Luz Suprema (Pleroma)

  • Morada do Pai da Luz (o Deus verdadeiro).

  • Local da pura energia luminosa e felicidade eterna.

  • Aqui vivem os Aeons — seres perfeitos que emitem luz divina.

🎯 Objetivo final da alma: voltar a esse estado de plenitude.

🌟 2. O Tesouro da Luz

  • Um espaço abaixo do Pleroma, mas ainda puro.

  • Aqui estão os Mistérios da Luz — práticas secretas que ajudam a alma a se purificar.

  • As almas que conseguem "ressuscitar" no espírito passam por aqui.

🌙 3. O Grande Arconte – Yaldabaoth e os Regentes

  • Nessa esfera, regida por Yaldabaoth (o Demiurgo) e seus arcontes:

    • Há mistura de luz e trevas.

    • É o domínio das ilusões, do controle e da falsa autoridade.

  • Pistis Sophia cai nesta região.

  • As almas humanas também ficam presas aqui, ignorantes da luz verdadeira.

⚖️ 4. O Mundo Material (Kosmos)

  • Nossa realidade física, onde:

    • A matéria prende a luz interior.

    • Sofrimento, erro e ignorância predominam.

  • Governado pelos arcontes e seus sistemas de leis opressivas.

🔥 5. As Regiões Inferiores (Hades ou Abismos)

  • Camadas ainda mais densas de sofrimento e punição.

  • Para onde vão as almas extremamente corrompidas ou inconscientes.

  • Aqui reina a completa separação da luz.

🔄 A Jornada da Alma segundo Pistis Sophia

Queda:

  • A alma, por desejo ou ignorância (como Pistis Sophia), desce da Luz Suprema em direção às camadas mais densas.

Cativeiro:

  • Fica aprisionada nas ilusões do mundo material e sob o domínio dos arcontes.

Arrependimento:

  • Reconhece seu erro e clama pela ajuda da Luz.

Libertação:

  • Através dos Mistérios e da ação do Salvador (Cristo), a alma vai sendo purificada e sobe pelas esferas novamente.

Retorno:

  • Depois de muito esforço e auxílio divino, a alma volta ao Tesouro da Luz — e, depois, ao Pleroma.

🎨 Representação Visual (esquemática)

🔵 [Pleroma / Luz Suprema]

↓ 🟡 [Tesouro da Luz – Mistérios]

↓ 🟠 [Domínio de Yaldabaoth e Arcontes – Prisão das almas]

↓ 🟤 [Mundo Material – Sofrimento e Ilusão]

↓ ⚫ [Abismos Inferiores – Separação total da luz]

🌟 Dica extra

No Pistis Sophia, a alma não sobe apenas por arrependimento, mas também por meio de senhas secretas, mantras, e rituais de luz ensinados pelo Salvador.
Essas práticas simbolizam sabedoria interna: a alma deve lembrar, reconhecer e praticar sua origem divina para romper as barreiras dos arcontes!